sábado, 13 de agosto de 2011

O MILAGRE DA CURA DE PIERRE DE RUDER (Parte 1)

PIERRE-JACQUES DE RUDDER, de 44 anos, era de Jabbeke, na Flandres Ocidental (Bélgica). O sofrimento oprimia o pobre jardineiro. A morte levara a primeira esposa e filho, e do segundo matrimônio perdera sete dos nove filhos.

            O ACIDENTE. Um dia Rudder deteve-se a conversar com dois conhecidos, os irmãos Knockaert, que estavam derrubando árvores perto do castelo do visconde de Bus. Uma árvore que caíra em lugar errado atrapalhava o trabalho dos dois irmãos. Rudder pôs-se então a tirar galhos dessa arvore, enquanto os irmãos a empurravam com alavancas. Mas a árvore escorregou. Caiu sobre Rudder. De um decímetro abaixo do joelho até o peito do pé inclusive, a tíbia e perônio ficaram esmagados. Os ossos do terço superior da perna esquerda ficaram separados três centímetros dos correspondentes ossos dos dois terços inferiores.

            Consta o testemunho do médico de Oudenbourg, Dr. Affenaer, chamado pelo visconde de Bus, patrão de Pierre-Jacques. O médico imobilizou a perna e manteve o conjunto com uma bandagem amidoada.

           E AS IRREPARÁVEIS CONSEQÜÊNCIAS. Várias semanas depois, ao retirar o aparelho imobilizador, porque o ferido sofria exacerbadamente, não houvera nenhum progresso. Pelo contrário: os fragmentos de ossos, desprovidos do seu periósteo, estavam banhados em pus. Chaga com longa ulceração, purulenta e gangrenada. Chaga também no peito do pé. O médico foi radical: retirou cirurgicamente (seqüestro) fragmentos necrosados de osso. A perna balançava abaixo do joelho.

            Rudder ficou um ano na cama. Quando se levantou, só podia caminhar apoiando-se em duas muletas sem que de modo nenhum a perna doente tocasse no chão, pois a dor -como em outras muitas oportunidades - seria dilacerante.

            O empregador, visconde Albéric de Bus de Gisignies, leva o coxo aos melhores especialistas de Bruxelas, dentre eles ao famoso Dr. Thiriart, cirurgião do rei da Bélgica; ao Dr. Verriest, Presidente da Associação Médica de Bélgica; e a outros médicos...

         Não há possibilidade de recuperação, especialmente por falta de periósteo, do qual depende a formação do calo ósseo necessário. O balanceamento da perna danificava e infeccionava cada dia mais a chaga purulenta, facilitando a necrose dos ossos nos extremos dos ossos separados. Os médicos com muita dificuldade conseguiam circunscrever a gangrena às chagas da perna. O doente tinha de lavar suas feridas duas ou três vezes por dia.

         Foram passando os meses, os anos... Oito anos, agora só amputando a perna à altura do joelho havia alguma possibilidade de salvar-lhe a vida. Poucas possibilidades. A amputação naquela época e na situação da perna, o tratamento e a assepsia seriam muito difíceis... A amputação muito provavelmente só aceleraria a morte do miserável sofredor Pierre De Rudder.

O SANTUÁRIO DE OOSTAKKER, na Flandres Oriental, é manifestação da devoção secular da Bélgica à Imaculada, já antes da proclamação do Dogma (em 8 de dezembro de 1854). Depois Oostakker foi chamada "Lourdes em Flandres". Uma basílica com residência de jesuítas, encarregados do santuário e de atender às procissões e peregrinações.

         Todos os médicos, como também o visconde Albéric de Bus -morrera um ano antes da peregrinação - e seu filho visconde Christian De Bus, sempre desaconselharam e até ridicularizaram a pretensão de Rudder de participar de uma peregrinação à basílica de Na. Sra. de Lourdes em Oostakker para pedir a cura.

         Só uma encantadora jovem, prima do jovem castelão de quem viria a ser esposa, indiretamente animava Rudder com um compreensivo sorriso. Quando já viscondessa de Bus, chamou seu pobre ex-empregado. Queria, caridosa, ver o estado da perna. Escreve nas suas memórias: "Então ele tirou as faixas, todas impregnadas de pus e sangue. Insuportável odor se desprendia (...). As duas partes do osso quebrado traspassavam a pele e estavam separadas por uma chaga supurante".

            Comovida, a viscondessa de Bus convenceu seu marido a possibilitar a viagem, não porque esperasse a cura, senão para propiciar a tão sofredor doente um consolo espiritual. Assim ela mesma o fará constar depois na sua peregrinação ao Santuário de Lourdes, na França, quando os médicos deste famosíssimo santuário pesquisaram o caso.

           O que ocorrera? Antes dos médicos de Lourdes, o Pe. Alfred Deschamp, jesuíta e doutor em Medicina, recolhe inúmeros testemunhos no seu inquérito. Médicos e particulares.

          Médicos. Destaquemos as freqüentes observações do Dr. Van Hoestenberghe, que também teve de retirar vários seqüestros; o Dr. Verriest o examinou quatro vezes, sete anos após o acidente, poucos meses antes que Rudder fosse ao santuário de Oostakker. Uma semana antes da peregrinação, o Dr. Houtsaegher examinou o doente, e concretamente destacou as observações do balanço desordenado da perna, inclusive ficando o calcanhar para frente e os dedos para trás. Na véspera da viagem, o Dr. De Visch faz constar no seu relatório as chagas purulentas e fétidas, uma mais profunda abaixo do joelho e outra mais extensa no peito do pé, como também o movimento de torção e o balançar da perna em todas as direções, podendo dobrar-se sobre si mesma.

            Particulares. Destaquemos Jacques de Fraye, que constatou meticulosamente todas as afirmações a respeito, inclusive que Rudder, levantado com as mãos o joelho esquerdo, fazia balançar a perna em todas as direções, e também, expressamente, que levantando a perna com uma mão, com a outra imprimia-lhe um movimento de torção até os dedos ficarem para trás e o calcanhar para frente. Com esses movimentos, freqüentemente esguichava pus. 

          Enfim..., Jabbeke é uma vila onde todos se conhecem. Pierre-Jacques De Rudder, precisamente pela sua angustiante situação, era conhecidíssimo. Inspirava a compaixão de todos. Tudo público e notório, constatadíssimo.    ( continua...)



 Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

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