sábado, 23 de julho de 2011

CORPO E ALMA SÃO INSEPARÁVEIS

Origem e história do modelo antropológico binário (dualista) –separando alma e corpo

   A origem deste modelo nada tem a ver com a revelação bíblica, mas, sim, com uma religião pagã do século VII ªC, a assim chamada "Religiã Órfica da Trácia", na Grécia antiga. A partir desta origem, a concepção binária ou dualista do homem passou por toda uma história de evolução e adaptação, até finalmente se fixar também no cristianismo.
   Desde os primeiros séculos da era cristã, essa concepção se tornou o modelo dominante no cristianismo, sustentado pela filosofia do neoplatonismo e pela ideologia religiosa da gnose e de seu dualismo cosmológico.
   As várias etapas desta história de absorção de concepções dualistas estão representadas no esquema:

Séc VII ªc – Religiões órficas da Trácia ---
Séc VI ªc Pitágoras – Dualismo ético
Séc IV ªC Platão – Dualismo ontológico
GNOSE – Dualismo cosmológico (origem: Pérsia) sécs II ªc e VI d.C
Doutrina Cristã
Séc II d.C Maniqueísmo Neoplatonismo
Séc IV d.C Agostinho
Séc XVII d.C : Dualismo cartesiano

   É importante frisar que, a partir do século IV d.C, sobretudo depois de Agostinho, a compreensão cristã do destino humano após a morte baseia-se, cada vez mais, no modelo dualista helênico. Este modelo antropológico já era o dominante dentro do império greco-romano antes da era cristã, e depois do desaparecimento deste império, continuou dentro do pensamento cristão e permanece até os dias de hoje. Ele se fixou de tal maneira, que muitos cristãos estão convencidos de que estamos diante de um fato de revelação divina. Pensam que a base do modelo antropológico dualista seria a própria Bíblia.
   Contra tal idéia é importante lembrar que o modelo antropológico tem suas raízes numa cultura alheia à da Bíblia. Ele entrou no cristianismo não por ser revelação divina, mas por razões culturais e ideológicas, ligadas a todo um processo de inculturação do cristianismo dos primeiros séculos.
   O modelo dualista-binário do homem, conforme o qual este homem é composto de corpo e alma (e a alma pode viver independente do corpo), não tem a sua raiz na Bíblia, mas na cultura pagã do helenismo.
   O termo "alma" aparece centenas de vezes nas traduções do Antigo e Novo Testamento. Entretanto, com exceção dos poucos textos do judaísmo tardio, claramente influenciados pelo helenismo, Quando a Bíblia fala da alma, nunca quer designar com esta palavra, um princípio espiritual autônomo que poderia ser separado do corpo. Dentro de uma visão integrativa, os textos bíblicos apresentam o homem sempre como unidade indivisível, para quem a alma garante a potência de ser para o absoluto.
   Os textos bíblicos em que se faz uma justaposição entre corpo e alma, foram, no passado, muitas vezes interpretados de maneira dualista e a partir de um enfoque da filosofia helênica. Isso, no entanto, é errado.
   Exemplo típico: um trecho do Evangelho de Mateus, onde uma interpretação dualista falsificaria totalmente aquilo que a Bíblia quer dizer. Neste e em todos os outros textos nos quais aparecem as noções corpo e alma, a Bíblia não faz uma concepção binária do homem. Ela não separa corpo e alma como dois princípios opostos: ela, pelo contrário, já se baseia numa visão muito "moderna" da pessoa humana, compreendendo esta pessoa como um ser único, cuja integridade, exatamente por causa da sua alma, nunca poderá ser destruída e dividida.
   "Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena" (Mt 10, 28).
   O muito prestigiado manual de exegese "Regensburger Neues Testament" (1986, p 228) deixa transparecer isso de maneira bem clara:
   "O texto não pressupõe uma alma sem corpo que sobrevive na morte, mas esclarece que Deus pode manter a vida inteira do homem também além da morte. (Psique não significa "alma" no sentido greco-helênico, mas a energia vital no homem.)"

A antropologia de Tomás de Aquino confirma a concepção bíblica
   
   Todos os estudos da antropologia do grande filósofo Tomás de aquino mostram uma concepção do homem que, por sua vez, também não sustenta a idéia de um dualismo conforme a filosofia do helenismo. Em vez de separar o homem em corpo e alma, Tomás de Aquino, já no século XIII, descreveu o ser humano como uma única substância, onde a alma é a Forma do Corpo. O ser humano é uma única substância indivisível.
   Como uma única substância não pode ser dividida e separada sem que deixe de ser aquela substância, esta concepção do filósofo contribuiu, por sua vez, para a superação do modelo helênico e para a redescoberta da concepção bíblica do ser humano.
(O Concílio de Viena adotou esta concepção, falando claramente da alma como "a forma do corpo" (DS 902))
   Karl Rahner mostra no seu grande artigo sobre a alma escrito na enciclopédia Sacramentum Mundi, que também o Magistério da Igreja, no Concílio Vaticano II, superou o esquema antropológico de corpo e alma separados.
   A constituição Pastoral Gaudium et Spes não fala mais do homem como um ser dualista, mas o define de maneira bem clara como "corpo e alma, mas realmente uno".
   O Cardeal Joseph Ratzinger, no seu artigo sobre a ressurreição do corpo, escreve de maneira explícita que este termo deve ser compreendido como "ressurreição da pessoa, não no sentido de uma corporeidade isolada da alma".
   Na dimensão que, teologicamente, chamamos "eternidade", não existe tempo no sentido como nós o conhecemos. Mas, quando não há tempo, não se podem passar anos e séculos, no decorrer dos quais a alma possa aguardar a futura chegada do Juízo final, para de novo se reunir com o corpo.
   Onde não há tempo não pode haver passagem do tempo, rumo ao futuro. Consequentemente, também não é possível que uma alma, sozinha, aguarde na eternidade a ressurreição do corpo. Sem tempo, não há nada que se possa agurdar num futuro qualquer; pelo simples fato de não existir mais um futuro temporal.
   Mas é exatamente isso que o modelo tradicional (alma esperando a ressurreição) pressupõe. A contradição lógica inerente a esse modelo vem sendo hoje, porém, cada vez mais criticada.
   Como a ressurreição do corpo, depois da morte, não pode acontecer num futuro temporal, porque na eternidade, tal futuro temporal não existe, a única solução é voltarmos à idéia profundamente bíblica da eternidade como "simultaneidade total".
   Eternidade significa um "agora simultâneo". E neste "agora" de Deus, não há nada que se deva "esperar" no futuro. Tudo é agora. Isto significa que, no momento em que o ser humano entra na dimensão da eternidade, ele entra numa dimensão de simultaneidade, na qual tudo aquilo que nós só podemos imaginar em termos de sucessão no tempo acontece num mesmo momento simultâneo e atemporal.
   Com bases nestes pressupostos, formulou-se, a partir dos anos 70, nova concepção daquilo que acontece à pessoa humana na morte, superando o modelo temporal.
  • A ALMA NUNCA SE SEPARA DO CORPO – EM NENHUM MOMENTO A ALMA FICA SEM CORPO
  • A RESSURREIÇÃO DA PESSOA INTEIRA ACONTECE NA MORTE
  • NÃO PODE TRANSCORRER TEMPO ENTRE A MORTE E O JUÍZO FINAL, QUANDO ACONTECE A RESSURREIÇÃO DO CORPO. (Pois o tempo não existe mais)

Textos extraídos do livro "Escatologia da Pessoa – Vida, Morte e Ressurreição" de Renold Blank - Editora Paulus




CONSIDERAÇÕES

   A Bíblia é um livro de Doutrina sobrenatural, inobservável, revelada... A Bíblia não corrige os erros científicos das diversas épocas em que foi escrita. Usa a cultura ou a incultura da época para dar Doutrina religiosa. Não há direito a invocar a Bíblia na interpretação de fatos do nosso mundo. Como continuamente fazem as seitas denominadas "evangélicas". Isto é falta de respeito à Bíblia. Deturpação. Ignorância. Os fatos, observáveis, de nosso mundo, pertencem à Ciência.
    Concretamente São Paulo não tem autoridade em Ciência. Quando fala em Corpo, Alma e Espírito usa a cultura da época. Aliás, freqüêntissimamente está mal traduzido. Em grego São Paulo fala de soma, psijé e pneuma, que significa, respectivamente, soma = corpo material; psijé = psiquismo em geral; pneuma = (sopro) usa o São Paulo para designar a vida religiosa, espiritualidade, graça sobrenatural...
    O ser humano não está composto de três elementos. É corpo animado, corpo e alma inseparados e inseparáveis. Não se pode nem imaginar a alma de uma planta, a vida de uma planta sem a planta; nem a alma, a vida, de um animal sem o corpo do animal. Igualmente a vida, a alma que no homem tem também faculdades espirituais (por exemplo a telepatia, o raciocínio, etc.) sem o corpo. Corpo e alma numa "peça só".
    Durante a vida vamos continuamente trocando a matéria que compõe o corpo. Desprendemos energia térmica, motora, fonética, plástica, etc., e vamos substituindo essa matéria pela respiração e alimentação. Em 6 meses trocamos completamente a matéria que compõe nosso corpo, mas sempre animado, corpo e alma espiritual.
    Na morte, se não apressarmos o processo com a cremação, vamos morrendo aos poucos. Em termo meio demoram 21 dias em morrerem todas as células. Estão vivas milhares de células durante, mais ou menos, 21 dias. Vão morrendo aos poucos. E na mesma proporção vamos ressuscitando. Vamos trocando o corpo físico pelo corpo ressuscitado, "espiritualizado", claro, ágil, sutil, impassível, eterno. É um tipo de corpo sobrenatural. Não há na natureza. No Lençol de Torino ficaram plasmadas, por milagre, as características desse corpo glorioso. Sem milagre, esse corpo é absolutamente irreconhecível pelos vivos. Dependia de Jesus fazer-se visível e reconhecível.
    E é claro que o cadáver pode ser cremado. Por que teria que ressuscitar precisamente a última energia material que constituiu o nosso corpo? Qualquer matéria que foi constituindo nosso corpo ao longo da vida, ou qualquer outra matéria com a mesma estrutura. Não faltará matéria no imenso cosmos para fazer o corpo glorioso de uma pessoa cremada ou da que tenham feito muitos transplantes.
    Em Cristo havia um motivo especial para que ressuscitasse precisamente a última matéria, aquela que foi crucificada. Se não, os Apóstolos não entenderiam a Ressurreição...
    Nem por uma fração de segundo há alma humana, espírito, sem corpo, como durante séculos erradas filosofias imaginaram. É concebido um ser humano inteiro, corpo animado. É gerado um ser humano inteiro. Vive um ser humano inteiro. E à medida que vai morrendo o ser humano inteiro vai ressuscitando o ser humano inteiro, . alma com corpo glorioso, "espiritualizado". E por toda a eternidade continua o ser humano inteiro. E o corpo glorioso poderá acompanhar "sem arrebentar" toda a potencialidade da alma humana. Toda ação é do homem inteiro. "Não há função sem órgão".
    É completamente contraditório o conceito de reencarnação. Imagina que os pais geram um corpo, e a alma vem de outro lugar! Absurdo. Geram um ser humano, como as plantas e os animais geram uma planta ou um animal na mesma natureza que seus progenitores. Pais e mães são pais e mães de um ser humano, não só de um corpo. E a alma, vindo de outro lugar, não seria uma alma individual, seria uma amarga indigesta de personalidades! Completamente absurdo.
    É completamente contraditório falar em espíritos desencarnados esperando que um dia vão ressuscitar (e pior ainda, reencarnar!). Não há tempo na eternidade...

EXISTENCIA DA ALMA 

    Não há nenhum parapsicólogo materialista. (Existe PG = Psi-Gamma: Conhecimento Espiritual. Um efeito espiritual. Este conhecimento psigamico foi demonstrada pelos especialistas de todo o mundo com milhões e milhões de experiências de laboratório por estatística matemática, e antes por milhares de experiências qualitativas e por análises de milhões de casos espontâneos de todas as épocas e povos.)
    Portanto tem que haver alma espiritual, porque "ninguém dá o que não tem", "o efeito não pode superar a causa". Se há um efeito espiritual, tem que haver uma causa espiritual.
    As conclusões foram analisadas de todos os ângulos (estatística, conceitos, física, filosofia...) em vários congressos internacionais. Recolho tudo isso no meu livro "A Face Oculta da Mente".
    Outro aspecto: Hoje está plenamente superada a separação alma–corpo, constituem uma unidade. A teoria de Santo Tomás de que os pais geram um corpo e Deus infunde a alma (criacionismo) está também superada. Cada espécie animal e vegetal geram "filhos" da mesma natureza que seus progenitores). Igual os seres humanos (traducionismo). Os pais geram um ser humano, não somente um corpo.
    Suposta a evolução, o limiar entre o simples animal e o homo sapiens é precisamente entre o pré-hominido e o homem. Algum pitecanthopus ereptus ou uma espécie deles (metaforicamente chamado barro, na Bíblia) recebeu de Deus a alma espiritual (metaforicamente chamada sopro divino, na Bíblia). A partir daí continua a evolução dos macacos por um lado, e por outro a evolução humana.
    
Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

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